Se em meus olhos ainda são bordadas lágrimas de um passado próximo, em músicas que me faltam arrancar o coração, é porque agora sei que somente esta saudade e esta dor me restam. Sei que aqui, dentro de mim, não há mais fogo algum, não há cinza alguma, não há lama nenhuma. Quero olhar para trás e não sentir nada, nada absolutamente. Estou próximo disso, eu sei. Amor? Não era. Paixão? Se loucura é paixão. O improvável, as voltas da vida, o desejo, olhando agora estão lá, no passado, que tentei, desesperadamente, tornar presente e futuro, em um outro passado. Amei, senti e morri. E agora, com coração e alma curados: vivo. No instante-eterno do outro perdido em mim. Sem resposta. Vagando em mim. Inevitavelmente solitário, para poder está completo e pronto para sentir e viver, tudo de novo, se assim o for, ou outras sensações, sentimentos, loucuras, como deve ser a vida. Preparado para não ganhar e só perder-se em tanta eloqüência, que só uma vida a cada dia poderá ser suficiente. Não mais que isso, não menos que isso. Pois agora de matéria bruta sou feito, em carne sofri e em carne serei feliz, e na carne morrerei quantas vezes ela for mordida, quantas vezes ela for maculada, quantas vezes ela for dilacerada. Como matéria bruta, só carne sou. Só carne posso dar. Só a vida de carne e osso é o que posso sentir. Alma? Tenho uma. Mas só a incandescência das chamas fará que ela se torne visível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário